As mulheres em “Nós que aqui estamos, por vós esperamos”.
17:51
Dirigido pelo brasileiro Marcelo
Masagão em 1999, o filme-documentário “Nós
que aqui estamos por vós esperamos” apresenta acontecimentos do século XX
por meio de memórias das principais personagens que o vivenciaram: as pessoas,
em sua grande parte não conhecidas mundialmente, mas igualmente importantes
como as mais famosas. Este possivelmente foi o principal fator que tornou este
filme, baseado em fatos totalmente reais e com trilha sonora de Wim Mertens,
merecedor de diversos prêmios nacionais e internacionais.
O longa-metragem
aborta diversos temas: as grandes guerras; A revolução industrial e seu impacto
na sociedade, evidenciada pela frase “Os
homens criam as ferramentas, as ferramentas recriam os homens”, de McLuhan;
grandes descobertas científicas; pensamentos de líderes conhecidos, entre
muitos outros. Entretanto, o material
principal usado para retratar tudo isso são sonhos, ideias, pensamentos e
acontecimentos de vidas que já se foram sem serem conhecidas hoje. Dentre essas
vidas, encontram-se a de mulheres. O papel destas na sociedade é um dos temas
retratados no filme, e que será aqui evidenciado.
O vídeo
apresenta um trecho de aproximadamente 10 minutos sob o título “Elas”, mostrando
um pouco da realidade das mulheres durante o século XX.
A cena de
abertura deste trecho apresenta Doris White, que “abusou na ousadia do maiô”, por usar a peça com menos elementos
que tradicionalmente, deixando um espaço maior das pernas visíveis. Depois,
mostra Sandra Michel tendo sua primeira experiência com cigarro, ao lado de
amiga.
Na cena
seguinte encontra-se uma mulher colando um cartaz escrito “Vote Women” (Vote em mulheres) em um poste. Posteriormente, este é
arrancado por dois meninos que o colam nas costas de um homem, e em seguida
riem quando ele sai andando assim. Esta cena apresenta dois importantes fatos
da época: primeiro, as mulheres buscando direitos políticos, inexistentes até
então por serem consideradas inferiores ao homem, e em segundo como os homens
se mostravam contra isso, caso contrário os meninos não teriam rido quando o
homem saiu com o cartaz, que possivelmente seria malvisto.
Logo
depois, mostram sufragetes em marcha
nas ruas em busca do direito ao voto, conquistado na década de 20.
Uma mulher
que estrangula o marido e em seguida vai ao cinema, outra dançando, uma
terceira apresentando sua vida amorosa constituem algumas das cenas seguintes.
Em seguida,
um dos símbolos mais conhecidos hoje em dia é apresentado: uma mulher erguendo
o braço com a escrita “We can do it” (nós
podemos fazer isso). Esta imagem trata-se de uma propaganda criada em 1943 por
J. Howard Miller, um homem que tinha o objetivo de incentivar mulheres a
trabalhar na indústria bélica, a principal da época. No geral, dizia que elas
podiam trabalhar como eles1. Por mais que isso pareça uma ideia
totalmente igualitária, o objetivo geral é totalmente o lucro, uma vez que os
homens estavam lutando e as empresas continuavam necessitando de funcionários. Em
meados de 1945 ocorre o fim da segunda guerra, que as leva de volta para casa:
cozinha, roupas, filho, marido e a depressão.
Depressão por ter que viver com trabalhos domésticos,
cuidando sozinha dos filhos, muitas vezes não ter tempo para elas mesmas e
muitas vezes sendo menosprezada pelos maridos e tratadas como objeto.
Muitas vezes os filhos vinham contra a vontade, motivo pelo qual
Margareth Sanger criou, em 1916, a primeira Clínica de controle de
natalidade. Esta tinha o objetivo de
aconselhar mulheres sobre a família, os filhos, saúde e métodos
anticoncepcionais. Infelizmente, Margareth foi presa por isso.
Mas as mulheres não desistiram. Quebrando regras impostas para elas,
criaram a minissaia, e saíam com elas para se divertir e aproveitar a vida. Neste
mesmo tempo, houve a queima dos sutiãs, que fez crescer o feminismo, agora não
mais em busca de direitos políticos, mas de mulheres com direitos sobre o
próprio corpo. Foi o início do chamado feminismo radical.
A queima significou, em si, uma vontade de quebrar tabus impostos pela
sociedade. Ora, a mulher não precisaria usar sutiã se a sociedade não lhe tivesse
imposto isso. Estes ideais foram muitos dissipados nos Estados Unidos.
Mulheres livres se divertindo
terminam o trecho.
O feminismo radical continuou
até os dias de hoje, tendo a marcha das vadias como um de seus representantes.
Esta iniciou-se no Canadá, com o objetivo de dizer aos homens que as mulheres
não são culpadas pelo estrupo, e tem direito de usar o que quiserem pois o
corpo pertence a elas e homem nenhum tem o direito de usá-lo sem a permissão da
mesma. De forma geral, “as mulheres são estupradas porque se vestem como
vadias” não é um argumento válido, e por isso elas vão as ruas de lingerie
protestar.
É irônico a sociedade impor o
uso do sutiã, por exemplo, e depois julgar que ele está a mostra. A queima de
sutiãs e a marcha das vadias apresentam, portanto, certa ligação entre si.
O filme mostra como ao longo
dos anos vários direitos para as mulheres são conquistados, e ainda hoje a
busca por estes acontecem, embora agora o foco principal seja o respeito.
Existem várias vertentes
feministas hoje em dia. O feminismo busca a igualdade, e este foi iniciado
pelas mulheres justamente por não serem tratadas de maneira igual desde a
antiguidade.
“Nós que aqui estamos por estamos por vós
esperamos” tem este nome por ter estas palavras escritas na entrada de um
cemitério, ou seja, várias pessoas que já morreram, várias vidas e sonhos que
já se foram – muitas vezes de maneira injusta – estão lá esperando nossa vez de
se juntarmos a elas, mas que tenhamos aproveitado bem a nossa vida, da maneira
mais justa, coerente e respeitosa possível.
Resenha escrita em 23 de março
de 2014 por Martha Gaudêncio da Silva, orientada por Joelson Mattos e Myka
Poulain.
1- Esta ideia de igualdade é muito presente no feminismo, movimento social que mais tarde popularizou a imagem.
Já digo que posso ter cometido algum erro sobre o feminismo; Estou totalmente aberta a qualquer correção.
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